segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O profeta do caos por um mundo melhor




O profeta do caos por um mundo melhor

Assim que me descobri gente, e, comecei a entender um pouco do mundo,  ensinaram-me muitas bobagens, ou melhor, alguns grandes absurdos: como filho de crente pentecostal, meus pais me diziam, para não me preocupar com esse mundo, pois o mesmo jaz no maligno, e, Jesus vem e vamos para o céu; os Americanos são ricos por que é um país cristão e protestante, então Deus os abençoa; até mesmo uma professora de geografia no ensino médio enfatizava o fato de os países protestantes serem mais ricos que os demais, pois a 'benção e a prosperidade é um dom de Deus', ensinamento dos protestantes (capitalistas), os católicos ensinavam que 'é mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha, do que um rico entrar no céu'.

Sonhava então com um Brasil que tivesse a mesma capacidade financeira dos EUA: ‘Quando estivermos como eles, todos crentes, o Brasil vai melhorar, se ainda o presidente for evangélico, aqui será o céu’. Graças a Deus, esse encanto passou logo. A inda hoje me flagro envolvido em debates bisonhos como esses, alguém recentemente tentou me convencer, que o capitalismo embora sendo selvagem, é mais vantajoso que o comunismo ateísta, pois um da liberdade de culto o outro não.

Mas o que mais me fez acordar, foi o contato que tive com a literatura, li quatro grandes livros, e foram obras libertadoras, trata-se de “1984” e “A Revolução dos Bichos” de George Orwell, O “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley, e, “Não Veraz País Nenhum” de Inácio de Loyola Brandão. Com exceção da Revolução dos Bichos que é o retrato fabuloso de fatos históricos, os outros três podem ser chamadas de “profecia do caos”, hipóteses futurísticas.

A Revolução dos Bichos
Já na adolescência admirei “os caras pintadas” quis ser um, o ideal comunista me encantou (apenas o ideal) pois a pratica Orwell me mostrou como era. Descobri Olga Benario e Luis Carlos Pretes, Paulo Freire e Karl Marx. Vi que todas as grandes utopias são contaminadas pelos homens. Neste livro a fazenda representa o estado soviético, corrompendo o belo sonho de Marx, a fabula não deixa quase nada de fora, mostra a religião a serviço do poder, o poder a serviço de poucos, e a população trabalhadora sendo explorada até a morte. No final do livro fica a clara semelhança entre o capitalismo e o socialismo, como fonte de opressão e cinismo. Tem também o filme, mas o final é horrível, numa falsa imagem de esperança colocam uma nova família chegando à fazenda, para tomar conta, essa nova família seria os americanos, os novos donos do mundo, George Orwell deve ter se revirado no túmulo.

1984
Escrito nos últimos anos da década de 40, projetava a década de 80, onde um estado totalitário, praticamente mundial, dominava seus cidadãos até nas reações mais humanas. Utilizando a figura do Big Brother, o grande irmão, um líder tipo 'Stalin' e a 'teletela' uma espécie de câmera e monitor, totalmente interativa, através desta, o sistema controla até o inconsciente. O sistema tinha idioma próprio, manipula as informações históricas, seus rebeldes não eram derrotados ou aniquilados, eram vaporizados, não apenas matavam, faziam aderir o sistema e amá-lo, ai sim eram eliminados, não apenas seus corpos, mas também suas memórias, os jornais eram alterados, onde houvesse uma referencia, eram também deletados, como se o rebelde nunca existisse. Nesse mundo não havia espaços para mártir. A narrativa começa mostrando um cenário ruim e vai piorando, quando se acha que não existe mais a nada a piorar, o autor ainda assim consegue, o livro segue assim até o final e termina da pior forma possível, “nada muito ruim que não possa ser piorado”, já dizia um amigo meu. Esse livro influenciou o mal fadado Big Brother global, apenas o nome, os conceitos são completamente inversos. Aprendi: que todo totalitarismo e culto a uma personalidade, seja política ou qualquer outra, é diabólica; tudo que rouba as sensações humanas, é uma monstruosidade; os sistemas políticos e midiáticos manipulam as informações a fim de manobrar as massas; a tecnologia é alienante. Fizeram o filme, leva o mesmo titulo do livro, esse é muito bom, recomendável.

Admirável Mundo Novo

Simplesmente fantástico, o cinismo da narrativa é encantador, a historia passa também no futuro, embora seja escrito  na década de 30, faz previsões maravilhosas a respeito de tecnologias, que hoje são muito comuns. Sem declarar, é nos mostrado um sistema também totalitário e controlador, não é permitido amar ou odiar, o homem vive controlado por drogas, uma beleza falsa, mecânica, sem a imprevisibilidade, pois o que torna a vida linda e empolgante, e, o que nos da esperança, é que não existe nada definido, tudo pode ser mudado, o prazer de superar o desafio, é saber que há a possibilidade de eu não superar. O ‘mundo novo’ é assim sem perigos, mas sem emoção. Pintado com tintas bonitas, mas a gravura quando olhado com atenção, é horrível. Até que um selvagem, o que seria uma pessoa normal, entra em cena e salva a historia, como uma espécie de hino a liberdade “Mas eu não quero conforto. Quero Deus, quero a poesia, quero o autentico perigo, quero a liberdade, quero a bondade, quero o pecado”. Tem algumas produções dessa obra para a TV, mais as que vi, são muito fracas, Hollywood promete um filme a altura do livro, estamos aguardando.

Não Verás País Nenhum


O brasileiro Inácio de Loyola Brandão, fez também sua parte por um mundo melhor, relata uma São Paulo apocalíptica. O detalhe é que ele não inventa os problemas que o Brasil sofre, ele só exagera as situações já existentes, como a destruição da natureza, alimentos artificiais e cancerígenos, roubo descarado do dinheiro público, obras públicas de faz-de-conta, que não resolve nada, apenas paliativos, gente morrendo pelas ruas, apodrecendo vivas como na cracolandia, o transito parados nas grandes avenidas, a ponto de os carros serem abandonados, enfim, é o retrato verdadeiro de nossa cidade e do nosso país. É claro que a intenção do exagero é proposital, para nos fazer acordar. Esse não tem filme, talvez nunca tenha, se a obra fosse americana, certeza que estaria nas grandes telas. O legal mesmo é ler, e, não ler esses livros, é tão pecado, quanto não ler a Bíblia.

A literatura me salvou de uma visão superficial e limitada do mundo, hoje sei, que os americanos são ricos por sempre explorar outras culturas e nações, dizimaram seus indígenas, roubando suas riquezas naturais e culturais, escravizaram os africanos, ainda hoje exploram o terceiro mundo, invadem países em busca de petróleos, e tudo isso em nome de Deus. Sei também, que os protestantes não são os mocinhos da historia, e sim os selvagens (capitalista), criaram um sistema econômico, que além de distribuir a desigualdade, está condenando a terra a um fim catastrófico, os recursos naturais não suportam por muito tempo nossa ânsia pelo consumo. "Um viva ao capitalismo selvagem e libertador"!

Aprendi, que não é o mundo que tem que ser reformulado, não é os sistemas que devem ser melhorados ou reinventados, todos os sistemas vistos na teoria, são lindos e maravilhosos, o socialismo e o comunismo de Marx são perfeitos, o cristianismo primitivo também tem uma caminhada comunista, onde todos viviam em comum com o que se tinha, mas todas as sociedades que adotaram o socialismo, nós vimos como acabaram e as remanescentes vão de mal a pior, o cristianismo, tornou-se também fonte de poder, miséria, opressão, massacres, muito distante do que Cristo ensinou. O que precisa não é reformulação de sistemas, e sim, a reformulação do ser humano. Por que se o homem mudar, qualquer sistema dará certo. E qual é o modelo que o homem deve seguir? É tornar-se um super-homem ou um anjo? Não. É ser o mais humano possível, assim como Cristo foi. Para aprendermos a lidar com nossa casa (nosso planeta), valorizá-la. A terra é um pressente de Deus para humanidade. Não é descartável, onde se destrói e se adquire outra. O capitalismo por ser filho do protestantismo, acredita na vinda de Jesus, um advento que nos levará para outro lugar, onde não precisaremos mais dessa terra, por isso, as gerações futuras correm o risco de não ter um planeta descente para morar. Será que Jesus almeja vir, não em um advento, mas vir hoje, e transformar as nossas vidas, a sua imagem e semelhança, onde homens respeitarão outros homens, e a terra seja tratada com dignidade?

Analisando os meus três profetas do caos, é nítido que algumas de suas palavras fez, fazem e farão todo sentido, outra não, muitas coisas não aconteceram, e nem acontecerão. A teletela de Orwell até existe, hoje tem equipamento melhor que o imaginado, mas se bem usado não escraviza ninguém, mas fica sempre o aviso que é possível sim nos tirar à liberdade. A humanidade sendo produzida como numa linha de montagem de Aldous Huxley, não acontece, mas sabemos que a clonagem é uma realidade. As ruas de São Paulo ainda não pararam a ponto de abandonarmos os carros, como no romance de Brandão, mas ninguém duvida que essa realidade está bem próxima. Se algumas previsões deles não se cumpriram, não significa que foram mal sucedidos, pelo contrario, foram muito bem sucedidos e espero que continue assim, pois suas mensagens foram de algumas formas assimiladas, e até agora tem nos livrados do pior, o fato é que nunca estaremos livres de suas previsões.

A grande contribuição desses caras a mim, foi tirar-me, do meu mundinho, e, ver além, do que muitas vezes, o sistema não quer que você veja, sem apelação extra natural, milagreira ou esotérica, apenas olhar em nossa volta e perceber que algo muito ruim está acontecendo e se não fizermos nada tudo vai piorar. Isso sim é um olhar profético, Deus não desce do céu e revela, nós apenas olhamos.

Minha opinião é que esses livros deveriam ser lidos em todas escolas e igrejas, pois no mínimo teríamos pessoas mais esclarecidas, quanto as suas responsabilidades em uma sociedade, e talvez o planeta não estaria com seus dias contados, o capitalismo não seria sinônimo de benção, os cultos às personalidades seria uma heresia, e a população não seria uma espécie de gado dos mais espertos, seja esses espertos  políticos ou religiosos.

Quem já leu essas obras divulguem, quem não leu, leiam pelo amor a vocês mesmos, para que nossos filhos tenham um mundo melhor.

 
  
 Jessé

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