sábado, 19 de setembro de 2009

Difícil não é sobreviver, é viver!




Posso dizer que domino o segredo da sobrevivência, afirmo isso porque a vida nunca me foi fácil, isso desde criancinha. Quando nasci fui abandonado por minha mãe, fiquei com meus avós, aqui nesse fim de mundo, interior paranaense. Ah! Antes que esqueça deixe-me falar, meu pai ninguém sabe quem é. Minha avó não andava, o avô só bebia. Não existia ninguém que fizesse comida para mim, fui criado como um bicho selvagem. Mas o importante é que consegui crescer.

Só recebi educação na adolescência pois a adoção chegou tarde, assim como tudo em minha vida. Chegou por um bom casal de idoso e também pobre. Nunca consegui ler era vergonhoso ir a escola com crianças, sendo eu um jovem mirrado, isso devido a fome que passei durante o período de crescimento.

Os anos passaram depressa cheguei a fase adulta e o casal já não esta mais comigo. Já trabalhei muito de bóia-fria nas fazendas da redondeza. Esse emprego acabou com a mecanização rural. Vivo de alguns bicos que faço nos quintais das casas, tive que aprender a profissão de jardineiro. Existe sempre alguém me procurando, nesta região chove muito e grama cresce rápido. Rende o suficiente para sobreviver.

O que mais me inquieta é saber que não existe ninguém a minha espera em casa, nenhuma criança correndo para eu abraçar ou uma mulher para receber com um beijo. Sinto saudade do tempo que meus padrastos me recebiam com uma novidade e eu trazia uma noticia nova das ruas, tudo era muito bem compartilhado.

A solidão não é maior por culpa desse vira-lata companheiro de todos os momentos. Mas me falta alguém que eu possa olhar nos olhos, de igual para igual, entende.

Neste exato momento não tenho vontade de voltar para casa, trabalhei duro, debaixo do sol quente o dia todo. A noite já chega e a luz desse poste vai acender em instantes, provavelmente atrairá todo tipo de inseto noturno serei o brigado a levantar. Enquanto isso penso, sobreviver eu aprendi, mas é extremamente difícil viver só. A sede só aumenta a ansiedade, a água da moringa acabou.

Final de rua quase sempre é deserto, o único movimento é o sopro do vento arrastando e levantando folhas secas e insiste levar também meu chapéu. Acho que ele deveria é levar a mim, para um lugar onde não existe solidão.

Jessé Soares

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Libertei-me do medo do inferno

(Texto de Barros Junior, um jovem da Besteda de Natal RN)




Libertei-me do medo do inferno, e da pressão de ir para o céu.
Libertei-me do medo do inferno, e da pressão de ir para o céu.
Descobri que ganhei isso de presente
Mas também descobri que esse não é o maior presente
O maior presente não foi esta passagem gratuita para o novo mundo
Mas o AMOR
A oportunidade de:
Chorar com os que choram
Sorrir com os que sorriem
Valorizar os pais e amigos

Abraçar os doentes, prostitutas, homossexuais.
Conversar com os alcoólatras
Acreditar nos meninos de rua

E se tornar uma pessoa extraordinária como Jesus, não em busca do céu ou para escapar do inferno.
Mas em busca desse EXTRA, que também podemos chamar de AMOR.

Fé + Perseverança + Flexibilidade = pessoas extraordinárias = AMOR

para acreditar em algo difícil, impossível para as pessoas comuns.
Perseverança para persistir e não desistir no primeiro obstáculo.
Flexibilidade para entender que as pessoas são diferentes, e ama-las mesmo assim.

Barros junior



(Barros Junior é missionário, atua na recuperação de moradores de rua, projeto social da Betesda de Natal, liderada pelo Pr.Mardes. Quando estive lá pude conhecer dois homens que saíram das ruas, estão firmes na igrejas, reconquistaram suas casa e esposas.)