sábado, 3 de outubro de 2009

O DISCURSO E AMOR

O DISCURSO E  AMOR




Minhas impressões após uma visita no hospital São Paulo.



Há alguns anos venho falando sobre amor e evangelho, e, a prática desse discurso lindo que tanto gritamos dentro de nossas igrejas mas, apenas hoje consegui começar a tirar da teoria aquilo que tanto falo. Ultimamente vivo uma faze diferente, estou profundamente constrangido com o estudo sobre o livro de Eclesiastes onde somos forçados a aprender o verdadeiro valor da vida, alguns sermões pregados no púlpito da igreja pelos pastores Elienai Jr., Mardes e a surpreendente Bráulia Ribeiro que por sua vez me vendeu seu livro “Um Chamado Radical” fez meu coração ficar mais ainda quebrantado a respeito da necessidade de fazer algo pelo próximo, li algumas páginas em lágrimas, não sou mais o mesmo, “estou estragado”. Mas hoje culminou tudo, uma iniciativa nascida do coração de Deus mobilizou parte dos jovens, banda e outros irmãos da igreja, fomos fazer capelania no hospital São Paulo. Vivi talvez uns dos momentos mais marcantes de minha vida. Saímos timidamente pelos os corredores solitários do hospital, pois ele pertence à universidade federal de São Paulo que está em greve, o número de pacientes reduzidos, em tempos normais esses corredores estariam lotados de macas com pessoas doentes aguardando leitos. Acompanhados por violão e violino saímos cantando, o corajoso Alex dava o ritmo, enquanto seguíamos cantando, eu sou aleijado musicalmente, só resmungava e continha as lágrimas, enquanto o Marcos dava um show cambaleando docilmente no ritmo de sua música, segurava seu violino na altura do queixo parecendo mais um anjo de uma assa só. Isso é só um pano de fundo mas gostaria de expressar as lições que tanto me fizeram emocionar:

1º Descobri o real valor da adoração: Algumas vezes parecia que cantávamos para as paredes, a maioria de nossos ouvintes não reagiam, não aplaudiam, apenas nos ouviam, alguns em lágrimas em seus leitos de profunda dor. Passávamos rápido pelos andares pois o hospital é muito grande, perguntei a irmã que nos conduzia se isso fazia algum efeito nos pacientes, ela sorriu e disse que me daria a resposta até o final da visita.

2º Vi pela primeira vez um remanescente da igreja primitiva: No local do culto que acontece todo sábado não existia placa de igreja, nem ênfase a uma determinada denominação, a capelania está lá apenas para amar, e as pessoas que vão até lá são carentes de misericórdia de Deus, não existe ninguém disputando cargo, ou querendo aparecer o único combustível que move aquelas pessoas é a graça.

3º Aprendi que quando não extremamos para um lado extremamos radicalmente para o outro: O hospital é dividido em duas partes, uma paga e outra pública, a parte pública tem algumas paredes sem pintar o ambiente é simples, a parte paga, há sala de espera com poltronas e paredes pintadas até o uniforme dos funcionários é diferenciado, em minha triste fraqueza pensei em só visitar a parte pública, “a mais carente”, graças a Deus não interferi, mais tarde em nossa participação no culto, um rapaz pediu uma palavra falou que passou mal a muitos quilômetros de Goiânia e poderia ter ido para o melhor hospital de lá, mas veio para São Paulo, seu pai está internado no Albert Einstein local onde seria conduzido naturalmente, mas não, ele estava ali, não sabia que se cantava hinos em hospitais mas quando nos ouviu percebeu a mão de Deus em tudo, portanto independente do que acontecesse estava tranqüilo. Não importa se é rico ou pobre é uma vida humana amada por Deus que está lá carente de amor. Enquanto saíamos de nossa participação do culto e voltávamos para nossa turnê pelos andares que ainda restavam à irmã veio até mim e disse “respondi a sua pergunta”. Mais uma vez contive a emoção pela dupla lição que Deus me deu. Fui informado pelo pastor Nino que os efeitos são infinitos, as pessoas jamais esquecem, e que o número de conversões é enorme, desde pessoas que são curadas outras morrem com Cristo, crianças que conhecem a Jesus, os pais que também acabam se rendendo ao amor de Cristo é incontável, não existe estatística, há casos que nunca ficaremos sabendo, só à eternidade um dia nos revelará.

4º Refleti um pouco mais sobre a vida: A realidade ali é explícita, o sofrimento é constante; vi uma criança com doença crônica que nunca saiu do hospital e o amor incondicional da mãe chorando enquanto fazia carinho em seu filho, onde a única reação que expressava era de dor; vi um garoto de talvez uns dezoitos anos que a uma semana não sai do lado de seu irmão, e este não faz a menor idéia do que acontece pois tem um problema mental, ele impressiona até as experientes enfermeiras, que me falaram que o pai nem aparece lá; andei pelas UTIs cantamos suavemente enquanto as enfermeiras abriam frestas das portas para que os doentes ouvissem nossa música, caminhei pelo pronto socorro, dezenas de pessoas desesperadas, uns com múltiplas fraturas, outro inconsciente devido excesso de remédio que tomou numa possível tentativa de suicídio. Fui informado que muitos pacientes não recebem visitas, a não ser dos voluntários da capelania, uma mulher no dia das mães recebeu seu primeiro presente lá de nossos irmãos voluntários.

5º Entendi que a persistência é uma das armas mais poderosas do missionário: Para nós foi tudo muito fácil, maravilhoso, não tínhamos resistência nenhuma, à recepção dos funcionários em geral impressionou a todos, médicos, enfermeiros seguranças, o pessoal da limpeza, todos não nos olhavam como um estorvo, mas como parte da terapia, alguns pediam mais uma música, nos orientavam onde era possível as pessoas ouvir melhor, isso fruto de um trabalho sério de dezessete anos do pastor Nino e sua equipe, que conquistaram a confiança do superintendente do hospital. Hoje eles estão aumentando sua influência em outras casas de saúde, e nos mostrou como são enormes as necessidades. Emocionei-me com a dedicação desse herói sem nome, quase desconhecido, perguntei se ali era sua segunda casa, ele sorriu falando que às vezes é muito mais a “primeira”. A irmã que nos acompanhou, no momento esqueci seu nome, tem setenta e sete anos, quarenta dedica a essa obra dezessete a esse hospital. Não consegui sair de lá sem antes dar um beijo nessa incansável guerreira de Cristo.

Hoje tenho uma consciência que nosso discurso bonito é no entanto, divorciado das atitudes, uma verdadeira hipocrisia, vivemos apenas para nós, nossa preocupação é só com nosso bem-estar, na verdade gostamos mesmo é da teologia da prosperidade. Graças à misericórdia de Deus que nos dá momentos como esse, levanta homem como pastor Nino, mulher como Braulia Ribeiro que nos fazem acordar desse comodismo insano, egocêntrico, para fazermos alguma coisa, e que, de preferência sem palavras, apenas gestos, atitudes, toques, é essa a verdadeira pregação do evangelho.

Quero agradecer a Sara e Alex que fizeram dessa visão uma realidade, o Marcos, Eliane, Wesley, Renata, Luciana, Érique, Mateus, Geraldo, Daniella e Olinda, que juntos fomos a voz, o rosto e o carinho de Deus naquele lugar de tanto sofrimento.

Minha oração agora é por uma vida cristã de menos discursos e mais atitudes, e que Deus tenha misericórdia de nós.



JESSÉ SOARES

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Cruz o Alívio





Um forte calafrio assombra minha alma

Quero gritar, mas a culpa abafa minha voz.

O coração descompassado é esmagado em cada pulsar

O gosto amargo do pecado invade minha boca

A consciência é uma espada que me perfura por dentro

Tentar correr é inútil, elos pesados me puxam de encontro com um abismo.

Entre um suspiro aflito e outro, um soluço angustiado.

Na testa escorre um suor gelado, misturando-se com lágrimas embasando ainda mais o olhar.

Com muita dificuldade enxergo uma silhueta de esperança no horizonte

Aos poucos a paisagem vai se definindo, é um monte sombrio parece uma caveira lá em cima tem uma cruz.



JESSÉ