terça-feira, 8 de setembro de 2009

O desabafo da melancolia




Cansei do triunfalismo.
De todos, desde os mais baratos até dos mais elaborados, os religiosos ainda são os piores.
Não agüento mais ouvir dizer que existe a probabilidade de os problemas acabarem, e que “tudo vai dar certo”.
Cansei do mundo dos vitoriosos.
Daquele que nunca perdem, nunca se dão mal e nunca se arrependem.
Não da mais para ouvir falar em viradas espetaculares onde o desafortunado virou o alvo da sorte do dia para noite.

Não da mais para suportar os charlatões de plantão, nem a celebração desmedida do triunfo utópico, presente nos contos de fadas moderno.
Por isso ta insuportável assistir quase tudo na televisão, cinemas e igrejas.
Eu quero a realidade da vida, a busca desse sentido nas lutas cotidiana, onde as durezas que os humanos experimentam sejam sintetizadas nas canções, novelas, filmes e sermões, pois a materialização do que esses charlatões estão dizendo já tem o prazo de validade vencido há muito tempo, e os neurolingüistas de arque incistem em ressuscitar.
Eu quero a valorização dos verdadeiros guerreiros, que tem apenas as lagrima como saída, que suas famílias sobrevivem com salário de miséria.
Valorização dos que perderam tudo, dos que “não deram certo em nada”, mas nunca abriram mão da dignidade e do caráter.
Estou mais interessado naqueles que hoje estão em depressão, nos melancólicos e nos desiludidos.
Hoje para mim faz mais sentido ler Carlos Drummond de Andrade e Fernando Pessoas, do que ouvir musica gospel, nas rádios.
Quero descobrir “O admirável mundo novo” voltar a “1984” e participar da “Revolução dos bichos”, mergulhar em Nietzsche, Camus e no Eclesiastes.
Quero defender os que não acertaram, os que foram reprovados, os falidos, os que sofrem de insônia, os doentes terminais, os doentes crônicos, os aleijados e os que não têm muitos motivos para sorrir.
Que não fiquem esquecidos os presos políticos, os mártires prematuros, os torturados, os negros escravos, habitantes; dos sertões, das favelas, da áfrica, de todo lugar onde se encontra os sofredores.
Que sejam ridicularizados os heróis hollywoodianos inventados para massagear o ego das superpotências, dos violentos, dos trogloditas anabolizados, dos lutadores que não levam um único soco, dos personagens que nunca se abalam.
Preciso ouvir as canções mais tristes, sussurrar os lamentos mais profundos, ler o poema mais nostálgico, para assim tentar ser mais verdadeiro e me identificar com os humanos, os normais.
Preciso desaprende contar vantagens, me envolver com os injustiçados, saber na pele o que eles passam, o que eles sentem e porque eles choram, e quando eles chorarem, chorar também, mas chorar pelos mesmos motivos deles, e não simplesmente de pena.
Precisamos tirar todos nossos escudos, sair da nossa zona de conforto, parar de olhar de cima para baixo, com aquela cara de piedoso, fingindo que se importa.
Iguais se olham do mesmo nível, vivem a mesma vida, pegam o mesmo ônibus, perdem o mesmo tempo no transito, quando falam, sabem do que se trata, não desenvolve um discurso alienígena, que nunca alcançam a comunidade que se referem, tese de sociologia formulada dentro de automóvel de luxo que faz seu percurso da zona nobre até a universidade, e se o pesquisador conhece o gueto é por que foi buscar drogas para curar do choque que esse estudo teórico causou, não deveria ter a menor credibilidade acadêmica.
Cansei da esquerda de classe média que só vivem de discursos e boas intenções.
Cansei também de pregadores que só falam em tese, não na pratica.
Existe só uma esperança, não é uma que “vai dar certo”, da forma que imaginamos. Mas é uma que o “dar certo”, é nos tornar gente, semelhante aos humanos.
A esperança está em seguir alguém que “não deu certo”, alguém que foi rebaixado, saiu de sua posição superior, desceu a terra dos viventes, tirou seus escudos protetores, tornou-se mortal, lavou os pés de seus semelhantes, viveu e sofreu, passou fome, frio, andou a pé e ficou cansado, foi ridicularizado, abandonado, torturado, preso, ficou depressivo a ponto de dizer que sua alma estava angustiada até a morte, foi um mártir prematuro. Suas mudanças não são espetaculares, o mundo continua quase o mesmo, mas Ele conseguiu se comunicar, e se hoje Ele não é compreendido é porque os que anunciam sua mensagem, tentam e de forma muito mal repetir apenas as suas palavras, e muitas vezes invertem o sentido original em que foi dito, e o mais importante que Ele queria quase ninguém faz, era que seus seguidores copiassem seu estilo de vida, é a forma mais bem sucedida de divulgar suas verdades.
Por que então esse famigerado triunfalismo irritante que tanto é papagueado em todos os lugares, e que está completamente fora da realidade da vida, fora do contexto histórico e divorciado das escrituras.
Esperança em “dar certo não”, em humanizar-se sim.
Não sei quando e nem aonde, um dia serei pleno.
Jessé

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